terça-feira, 22 de novembro de 2011

“Amanhecer: Parte 1″ – O começo do fim da picada

O site Terra Magazine preparou uma critica da parte 1 de Amanhecer, confira:
Antes que a luz se apague e o projetor comece nos contar mais um capítulo dessa saga que, a partir desta sexta-feira, devora praticamente todas as salas de cinema do País, dois esclarecimentos.
Primeiro. O texto a seguir contém spoilers para quem (por onde você anda?) ainda não sabe o que acontece no final de cada um dos livros da saga Crepúsculo. Segundo. Esta não é uma crítica do filme, tampouco resenha, ensaio ou artigo acadêmico para congresso de comunicação. O que é, bem, ainda não se sabe. Talvez uma necessidade pungente e lancinante de compartilhar todos os momentos das fortes emoções de uma história sobre vampiros cristãos, lobos sarados e uma menina virgem em pleno inebriamento hormonal. E mais importante, tentar entender, a partir dos signos que nos são apresentados, por que raios isso dá tanto dinheiro.

Tendo esclarecido as cláusulas e em comum acordo com quem topar ler os próximos parágrafos, sente-se e acomode-se, porque lá vem sangue, suor (ok), lágrimas (not) e muito texto.
A tela fica escura e, como de tradição nos filmes anteriores (esse é o quarto de cinco, para quem se perdeu nas contas – como eu, por exemplo, que ainda tive que corrigir essa informação), a primeira coisa que a gente vê nessa história é o título dela. Possivelmente uma precaução para os desavisados que entraram na sala errada. Mas ops, a sala ao lado também está passando o mesmo filme. E a do lado da sala ao lado idem. Enfim. Você não terá muitas opções nesses próximos dias.
Amanhecer – Parte 1 já começa com o gráfico lá em cima. Em questão de segundos após o começo de filme, vemos o rapaz Jacob sair irritado de casa, jogar um envelope no chão e, na chuva, ele faz a única coisa que é coerente ao seu personagem e ao dinheiro gasto em suplementos energéticos e academia. Sim, segurem a respiração porque ele, Jacob, tira a camisa. Na chuva. Sem camisa na chuva. Malhado e molhado. Ah, e sim, depois ele se transforma em um lobo porque, vejamos, ele está chateado com a notícia do casamento entre Edward Cullen e Bella Swan.
Corta então para o salto alto. O que Bella vai tentar usar no casamento. Mas Bella, a grunge que perdeu o “timing” e nasceu tarde demais para se apaixonar por Kurt Cobain, não curte muito essa coisa de salto alto, maquiagem, saias e outros artifícios mais femininos. Bella quer casar descalça, quem sabe vestida com uma daquelas camisas-flanelas que ela tanto curte e que, infelizmente neste filme, saíram completamente de cena. Isso porque Bella precisa agora ser mocinha. Precisa do salto, da maquiagem e das saias. Afinal de contas, ela vai se casar. Faz total sentido para uma história que coloca na boca do protagonista um discurso de como é importante “ser aceito por aquilo que você é”.
Uma declaração de amor eterno, um flashback e um sonho depois (os três elementos mais presentes em todo este filme), Bella está pronta para o casório. A câmera vai mostrando o vestido aos poucos. Já até imaginamos os comentaristas de moda tecendo suas primeiras considerações ao vivo na CNN: “Rendas bonitas e delicadas, ousado decote nas costas, arranjo de cabelo discreto, porém elegante. E Bella, essa tiara linda, é Cartier ou Swarovski? Algum recado pra Kate Middleton?”
Pois bem, é dia de luxo e riqueza, bebê. Os vampiros da parte do noivo e os humanos da parte da noiva parecem se entender nessa proposta. Até Stephenie Meyer, autora dos livros da série, está lá, representando o clã dos mormons. Meio deslocada mesmo está a turma dos lobos, representada por meia dúzia de membros do clã. E cadê o lobinho favorito dessa história? Por onde andará aquele torso desde que o vimos pela última vez molhado de chuva? Só quem pode responder a essa pergunta é…Edward. É ele quem leva Bella, ambos já unidos em sagrado matrimônio, ao braços de Jacob, o amigo que mantém essa relação extra especial com Bella. Edward, generoso que só ele, deixa os dois a sós e enquanto o menino-lobo encosta seu rosto na nuca dela, Bella deve estar imaginando que um ménage à trois não seria de todo mal.
O climinha dançando-música-lenta-com-o-menino-mais-lindo-do-colégio só termina porque os dois acabam discutindo os pormenores da primeira noite de sexo entre Bella e Edward. Jacob, com razão, se sente excluído do processo.
Mas faz favor, o dia é de festa e depois de um casamento de luxo e riqueza, bebê, só mesmo uma lua de mel no Rio de Janeiro. Nos três minutos que fazem a Riotur chorar de felicidade e que podem ainda ser aproveitados para a campanha das Olimpíadas de 2016, vemos o Cristo Redentor, o relógio da Central do Brasil, os arcos da Lapa e meio mundo de gente sambando na rua, por onde os gringos recém-casados passam rapidamente. De lá eles partem para uma ilha que Edward ganhou de presente do pai adotivo. Sim, porque os Cullen não são os 99% do #OccupyWallSt. Eles são Wall Street. E outra: para tudo que Edward fala português! E eu disse português, e não espanhol! Agora sim, nós somos um país com respeito e prestígio internacional. Depois dessa, a ONU certamente nos cede aquele direito de veto no Conselho de Segurança.
De volta à lua de mel: vemos Edward pilotar uma lancha com a bandeira do Brasil rumo a seu presente de casamento. E é na sonífera ilha que o casal mais chove-num-molha do Oeste finalmente fará um amor gostoso. Isso, claro, porque agora eles são casados. Na Igreja Octogonal dos Sanguessugas do Bem, sexxxo só depois do casamento.
E eles começam o enrosca-enrosca, vejam só, com um autêntico método brasileiro de pegação no mar, batizado após um episódio com uma ex-famosa brasileira cujo nome não convém citar aqui. Mas Bella quer mais, ela quer o seu primeiro papai-e-mamãe matrimonial. Ela quer perder a virgindade como manda a tradição. E, acreditem, ela quer muito. A ponto de até depilar a perna para a ocasião. Quem está meio reticente é ele, temeroso em machucar a moça depois desses anos todos – e estamos falando de séculos – de abstinência. A explicação sobre esse medo, na verdade, se dá porque Edward é muito forte, tipo meio Superman. No que me ocorre que ninguém jamais explicou por que Lois Lane nunca morreu depois das noites de sexo com Clark Kent. Mas esses são outros 500.
Fato é que, depois de provocar algumas escoriações na primeira noite de sexo animal com Bella, Edward brocha e não quer saber mais dessa brincadeira. E sua solução para uma lua de mel perfeita é: jogar xadrez. Se cuida Justin Timberlake, porque Edward e Bella estão trazendo o xadrez de volta. Mais sonhos e flashbacks depois, e no mesmo espírito coerente que falta à série, descobrimos que Edward não mais brilha no sol (pelo menos não no sol brasileiro) e que Bella está grávida depois de duas semanas de lua de mel. E qual é a cara que Edward faz diante dessa última notícia? A mesma que o ator Robert Pattinson vem fazendo sempre que cai nas suas mãos uma cena de conflito interno do personagem: ele usa a boa e velha técnica teatral do “que cheiro ruim é esse?”
Vamos pular algumas partes do filme agora para dizer que tudo volta ao que era antes com a gravidez inesperada de Bella – afinal de contas, quem imaginaria que um vampiro, ser que todos sabemos como mortos-vivos, poderiam ter sêmen? ou se ver no espelho? ou brilhar no sol?. Em outras palavras, Edward e Jacob voltam a tentar dividir a mesma mulher. Enquanto isso, Bella vai definhando, sua barriga cresce mais rápido que o rombo econômico europeu e seu misterioso bebê tem tudo para ser primo de primeiro grau daquele outro famoso bebê, o de Rosemary.
Nesse momento, uma terceira categoria de ser sobrenatural entra em cena. Depois dos vampiros e dos lobos, todo mundo sabe que agora é a vez dos zumbis. E é mais ou menos nisso que Bella se transforma com sua gravidez. E como ninguém sabe exatamente o que fazer com a menina e sua cria, Edward cai na armadilha de buscar aquilo que todo médico desaconselha: ele procura na internet uma explicação. E pior ainda: para isso ele usa o Yahoo! Santa paciência Batman. Os fãs – e se você é fã não sei como já foi tão longe nesse texto – sabem que o se segue é escatológico. Para sobreviver a esse parto, Bella vai tomar sangue em copinho de milk shake (McLanche Feliz está avaliando introduzir isso no cardápio) e seus ossos vão virar farinha de mandioca depois que o bebê resolver nascer.
Sem querer estragar esse momento de grande tensão da dramaturgia adolescente – aliás, é só neste fim de filme que acontece realmente algum grande conflito – ficamos sabendo que lobos falantes usam sintetizador na voz, que Bella dá à luz a uma menina e que, em um movimento um tanto quanto pedófilo, Jacob se apaixona por essa bebê. Ah sim, é uma menina.
Quanto à Bella, sim, claro, ela sobrevive. Até porque, suspiros, ainda tem mais um filme dessa série para estrear nos cinemas.
A propósito, disse no começo deste texto que tentaria entender por que motivo essa saga rende tanto dinheiro e comove tanta gente. Depois de tudo que foi descrito acima, me soa uma tarefa impossível. Acho até que a fórmula do sucesso estrondoso de algo com narrativa tão pífia só pode ser, sei lá, o terceiro segredo de Fátima.
Então o que achou?
Também enquanto estava assistindo o filme eu vi um erro muito grave!
Na lua de mel Edward e Bella estão no sol, porém Edward não está brilhando..
Algo a resaltar sobre essa pequena observação final, galera?

Nenhum comentário:

Postar um comentário